Todos os dias um malandro e um trouxa acordam, quando eles se encontram sempre sai negócio (autor desconhecido)

Por: Flavio Riva – Mestra Consultoria
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Flavio Riva é administrador de empresas com especializações pela Escola Politécnica-USP e University of California Irvine.
Sócio fundador da Mestra Consultoria, atuou como Compliance Officer em corretoras de valores e possui certificações PQO-B3, Risk Manager C31000, CPC-A, dentre outras.

Primeiramente cabe uma breve caracterização dos dois principais personagens deste curto e despretensioso artigo: o trouxa é aquele que se acha malandro e busca vantagens e resultados além do razoável, do normal e dos padrões de mercado. O malandro é o que se aproveita da inocência e ambição dos trouxas e cria cenários artificiais para vender as vantagens que estes tanto procuram.
O assunto é tão amplo que daria facilmente um livro, talvez até uma enciclopédia, mas o objetivo deste artigo é apenas expor alguns casos que, na condição de especialista no mercado financeiro, professor e Compliance Officer, tenho me deparado e que infelizmente crescem a uma velocidade assustadora, criando uma verdadeira nação de trouxas e infelizmente penalizando apenas uma pequena fração de malandros, que por conta de descuido ou abuso da impunidade, acabam caindo nas mãos das autoridades ditas competentes.
Desde o famoso “conto do vigário” até os “criptogolpes”, passamos por diversas ondas de fraudes, golpes, esquemas, pirâmides, estelionatos, e vimos uma sofisticação no “modus operandi” da malandragem que torna os trouxas ainda mais vulneráveis e presas fáceis desses vorazes predadores.
Mas voltando à amplitude da matéria e para não cansar o estudioso leitor, vamos afunilar ainda mais esse artigo e dar foco no mercado de capitais. Nesse sentido, nada melhor que esclarecer os papéis, responsabilidades e certificações de alguns dos mais importantes profissionais do mercado. Para isso preparei a tabela a seguir, com as principais características desses profissionais:

Como se pode observar, cada um tem seu papel no mercado e para cada função existe uma certificação sob responsabilidade de uma entidade reguladora. Claro que esses profissionais, mesmo certificados e habilitados para suas funções, são pessoas. E pessoas são imprevisíveis. Muitas não se contentam com as limitações de suas funções e buscam otimizar suas receitas, atuando às margens da legalidade. É o chamado “malandro otário”, que por conta de ser um profissional registrado e, portanto, regulado, mais cedo ou mais tarde será descoberto. A depender do ilícito, poderá perder sua certificação, pagar multas, ter que ressarcir prejuízos e muitas vezes é até obrigado a buscar outros mercados, tendo que encerrar de vez sua carreira no mercado de capitais.
Pode parecer exagero, mas já vi muitos profissionais de mercado, agentes autônomos de investimentos (AAI), por exemplo, se descredenciarem na CVM (Comissão de Valores Mobiliários) e Ancord (Associação Nacional das Corretoras de Valores), apenas para tentar uma atuação paralela e fora dos holofotes dos reguladores. Acabam atuando como influenciadores, procuradores, gestores ou consultores piratas, montando mesas proprietárias, clubes de investimento, ou pior, esquematizando pirâmides financeiras ou outros tipos de operações fraudulentas.
A verdade é que em todas as profissões existem profissionais dos mais diversos tipos e o AAI é sim uma figura importantíssima do mercado de capitais, ele dá capilaridade e acesso a investidores que muitas vezes estão restritos a produtos bancários. Ao contrário do que certos famosos influenciadores já disseram na mídia, o AAI há tempos vem ajudando a mudar para melhor o mercado de capitais brasileiro, dando oportunidade a instituições não bancárias de competir de igual para igual com grandes bancos, além de dar acesso ao cliente investidor a investimentos mais sofisticados que a tradicional poupança e o CDB, sem contar os consórcios e títulos de capitalização insistentemente oferecidos por gerentes de bancos.
Não é à toa que profissionais e escritórios de AAI têm sido disputados aos tapas pelas grandes instituições, muitas vezes com o pagamento de luvas, antecipação de corretagens e acordos de remuneração que parecem não fechar a conta jamais. De qualquer forma, cada empresa tem suas estratégias, e quem sou eu para questioná-las.
Importante para o investidor ao contratar um profissional de mercado ou ser abordado por um deles, é saber o papel de cada um no mercado, como verificar sua habilitação e credenciamento e seus limites de atuação. Nesse sentido, além da tabela já apresentada, seguem algumas dicas importantes:

  1. Nunca, jamais, de forma alguma, transfira qualquer valor de seus investimentos para uma conta que não seja sua, de sua própria titularidade; ou seja, seu assessor, gestor ou consultor não está autorizado a receber recursos em seu nome;
  2. Verifique se o profissional e a instituição estão habilitados para atuar no mercado de capitais. Consulte o site do BACEN, CVM, ANBIMA, e da própria instituição à qual o profissional se apresenta como vinculado. Busque informações antes de iniciar o relacionamento;
  3. Crie o hábito de ler contratos, termos e declarações. Cansei de ver argumentos serem quebrados por cláusulas de documentos assinados pelo próprio reclamante;
  4. Fuja de ofertas tentadoras, promessas de rentabilidade, produtos complexos que nem o próprio profissional sabe explicar;
  5. Procure concentrar seus investimentos em mercados mais regulados. Caso esteja inclinado a operar no mercado de Criptomoedas, Forex ou outros ativos menos regulados, busque conhecer melhor as instituições, os processos de investimento, resgate, riscos e outros pormenores inerentes a estes mercados;
  6. Procure entender qual a forma de remuneração dos profissionais e fique atento para eventuais recomendações ou operações que não estejam de acordo com seu perfil de investidor (suitability);
  7. Entenda as limitações da função de cada profissional, por exemplo: o AAI não é gestor, não é analista, não é seu procurador, portanto não passe suas senhas para ele e não permita que invista em seu nome, sem sua ordem expressa de compra ou venda do ativo;
  8. Rentabilidade passada não representa garantia de rentabilidade futura.

Fique esperto, e bons negócios.