Governança corporativa. Se essa expressão te faz pensar em reuniões intermináveis e apresentações cheias de gráficos complicados, precisamos conversar.
A verdade é que governança não é, ou pelo menos não deveria ser, um peso inevitável ou um castigo imposto às empresas. Na essência, trata-se de um sistema que ajuda as organizações a tomarem decisões melhores, com mais transparência, ética e responsabilidade. É como um GPS bem calibrado: sem ele, as empresas correm o risco de se perder em atalhos perigosos, tomar decisões erradas no calor do momento e comprometer sua sustentabilidade no longo prazo.
Mas por que isso importa tanto?
Porque o mundo dos negócios se parece cada vez mais com um jogo de xadrez. A velocidade das mudanças, os riscos emergentes e a crescente pressão por responsabilidade social e ambiental exigem que as empresas pensem estrategicamente cada movimento, antecipem cenários e tomem decisões equilibradas para se manterem sustentáveis no longo prazo.
No entanto, a melhor estratégia não é apenas ter um plano — é garantir que ele seja executado com clareza e coerência. E é aí que entra a governança corporativa, garantindo que as regras do jogo sejam respeitadas, que os riscos sejam devidamente mapeados e que as oportunidades sejam aproveitadas sem comprometer a integridade da organização.
O perigo do “Governance Washing”
Empresas que enxergam a governança apenas como um requisito burocrático estão perdendo a chance de realmente gerar valor. É o famoso Governance Washing – um primo corporativo do Greenwashing –, onde as empresas criam uma fachada bonita para o mercado, mas sem compromisso real com boas práticas.
Governança de verdade não é sobre seguir regras no papel. É sobre transformar cultura, criar confiança e garantir que as decisões estratégicas sejam mais do que apenas reações de curto prazo.
O papel dos conselhos: guardiões da boa governança
Dentro de uma estrutura de governança corporativa, os conselhos, sejam de administração, fiscal, ou mesmo o consultivo ocupam um papel central. Mais do que um grupo de pessoas bem-intencionadas reunidas periodicamente para revisar relatórios, os conselhos são responsáveis por garantir que a organização esteja no caminho certo, alinhada ao seu propósito e preparada para os desafios do futuro.
Dessa forma, se houvesse os 10 mandamentos dos conselheiros na estrutura de governança, certamente três deles seriam:
- “Defenderás o equilíbrio entre os interesses das partes envolvidas” – garantir o equilíbrio entre os interesses dos stakeholders, assegurando que nenhuma decisão seja tomada em benefício de poucos em detrimento do todo;
- “Criarás valor sustentável” – gerar valor sustentável, olhando para o longo prazo e não apenas para resultados imediatos;
- “Evitarás decisões tomadas no calor do momento” – evitar decisões tomadas no calor do momento, utilizando informação qualificada, análise de riscos e um processo decisório estruturado.
Um conselho bem estruturado não apenas fiscaliza, mas também orienta, provoca reflexões estratégicas e contribui para a perenidade da empresa. Afinal, tomar boas decisões quando tudo está calmo é fácil. O verdadeiro teste vem quando a incerteza domina o tabuleiro.
E agora?
Uma governança corporativa efetiva não se resume a uma única iniciativa ou documento. Ela envolve desde transparência e prestação de contas até a estruturação de processos de tomada de decisão, definição de responsabilidades e alinhamento estratégico. Tudo isso passa por diversos agentes, como sócios, executivos e conselheiros, que têm o papel de garantir que a empresa esteja sempre no caminho certo.
Dentro desse contexto, uma pergunta essencial surge: o nosso conselho realmente agrega valor?
Porque, no final do dia, governança bem-feita não é sobre controle excessivo ou processos engessados. É sobre clareza, confiança e a certeza de que as melhores decisões estão sendo tomadas – para o negócio, para a sociedade e para o planeta.